A pandemia de saúde de 2020 trouxe para o mundo diversas mudanças culturais e comportamentais que geraram impactos significativos na demanda energética, seja ela quantitativa ou qualitativa. Com destaque para a nova formatação das relações de trabalho, em que o trabalho remoto acabou facilitado pelas tecnologias de comunicação desenvolvidas nas últimas décadas, nota-se que as mudanças que ainda estão acontecendo em razão deste fenômeno impactam diretamente na  mobilidade urbana e, consequentemente, na utilização de transporte público, individual e nas movimentações em geral de pessoas e mercadorias.

Parcela importante da força de trabalho, que teve seus hábitos laborais alterados pela pandemia, deve permanecer no formato de trabalho remoto, ao menos durante boa parte de sua semana de trabalho, como podemos observar em levantamento recente realizado pela consultoria BTA[1], em que, por conta da pandemia, o modelo de trabalho home office se tornou o padrão para ao menos 43% das empresas brasileiras.

Outras mudanças significativas foram observadas no panorama global energético em 2020, impulsionadas pela entrada em vigor, em 01 de janeiro de 2020, da IMO 2020, norma emitida pela Organização Marítima Internacional (IMO), agência da ONU que, visando uma indústria marítima mais limpa, reduziu o limite obrigatório de emissões marítimas de dióxido de enxofre para navios do mundo todo, de 3,5% para 0,5%, .

Além disso, temos observado impulsos dos mais diversos tipos para a eletrificação das frotas de veículos, bem como estímulo e subsídios ao crescimento das fontes renováveis na matriz energética global.

O Brasil, na qualidade de grande potência em desenvolvimento, tem um papel relevante neste cenário, visto que possui uma das maiores matrizes renováveis do planeta, que conta com 46,2%[2] de fontes renováveis, frente a 14% de participação das renováveis na matriz energética mundial. Somos vanguarda na utilização e desenvolvimento de biocombustíveis, com produção (até setembro de 2020) superior a 126[3] milhões de barris equivalentes de petróleo (bep), o que corresponde a aproximadamente 29% do consumo nacional de combustíveis no mesmo período. Tivemos crescimento da oferta de renováveis em 84,14%[4] de 2000 a 2019, ou seja, dos 112,19% do crescimento total da demanda energética no período, 35,32% foram supridos por uma nova oferta limpa e renovável de energia.

Além de todo o panorama descrito, o Pré-Sal brasileiro, em que a maior parte da produção e das reservas em desenvolvimento estão no litoral do estado do Rio de Janeiro, é composto por um óleo com menores concentrações de enxofre, o chamado óleo doce, que é menos ácido. Esse tipo de óleo é produzido principalmente pelos campos de Lula e Búzios, nos quais, segundo artigo[5] publicado em novembro de 2020 pelo portal oilprice.com foram recebidos até 8,5% de ágio frente ao preço de referência do Brent. Esses dados garantem e asseguram novos e vultuosos investimentos para consequente ampliação operacional no polo do Pré-Sal brasileiro. A estatal brasileira Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) divulgou em novembro de 2020 que espera que sejam realizados investimentos na ordem de 122,7 bilhões de dólares até 2030 nos campos localizados no polígono do Pré-sal.

Aliado a esse positivo cenário, temos enormes reservatórios de gás natural associados ao valioso óleo do Pré-sal. O gás natural se mostra como  combustível fundamental para garantir a continuidade da expansão das fontes renováveis no país, visto que é mandatório uma capacidade suficiente de geração elétrica na base que proporcione o equilíbrio nas variações de fontes renováveis, como eólicas e fotovoltaicas, dentre outras.

Em face desse incrível cenário confirmado, bem como do potencial de investimentos, na ordem de grandeza dos bilhões de dólares, seja para o O&G, seja para as fontes renováveis, nascem inúmeros desafios tecnológicos, com a missão de dar ganho de eficiência e segurança econômica e operacional aos projetos, representando um oceano de oportunidades de negócios com os grandes polos tecnológicos globais, como o de Israel.

[1] Fonte – https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2020/03/43-das-empresas-adotam-home-office-por-causa-do-coronavirus-mostra-pesquisa.html

[2] Fonte – Empresa de Pesquisa Energética (EPE) – https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica

[3] Fonte – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) – http://www.anp.gov.br/dados-estatisticos

[4] Fonte – Empresa de Pesquisa Energética (EPE) – http://shinyepe.brazilsouth.cloudapp.azure.com:3838/ben/

[5] Fonte- https://oilprice.com/Energy/Oil-Prices/This-Could-Become-The-Worlds-Most-Expensive-Crude-Oil.html